domingo, 29 de março de 2009

A Fulana, a Catraca e o Saco de Arroz.

Ok, vamos contar mais uma! Mais light, dessa vez! E aqui inauguramos a série: pessoas estranhas no ônibus.


Meio de fevereiro, mais ou menos, era um dia qualquer. Estava calor - muito calor - e eu saí de casa no horário normal. Peguei o ônibus no horário normal, lotado, como sempre. Liguei meu MP3, como sempre. E fui em pé até metade do caminho, como sempre.

Até que estava um dia engraçado! Eu gosto de olhar para as pessoas que estão comigo, sentadas ou em pé, ou até mesmo passando na rua.

O último ponto da Santo Amaro, antes de entrarmos na Brigadeiro, é o ponto que tem na frente do Friday's. Normalmente é o lugar em que o bus lota de vez. Ok. Lotou.

"Sabe aquela posição de encaixe? É quando você entra e FICA. Não respira!" Assim definiu uma colega minha de faculdade, numa conversa sobre pegar ônibus em dias críticos, como o de tempestade (logo mais, outra história). Pois é, eu estava assim: numa posição de encaixe. E foi assim até quase último ponto da Brigadeiro Luís Antonio.

Quando estávamos, mais ou menos, perto do ginásio do Ibirapuera, eu vejo uma figura engraçada na rua: uma mulher, cabelo desgrenhado, mais ou menos 1,65m, meio gordinha, usando uma camiseta de campanha política azul marinho e uma calça de moleton velha. Era daquelas que deveria estar vagando na avenida há, pelo menos, umas duas horas. E ela resolveu entrar num ônibus, claro. No meu - ÓBVIO.

Paramos no ponto depois do ginásio e a moça entrou.

[Nota: tentarei reproduzir o discurso da mulher exatamente como ela disse, ok?]

-Oi, dá licença, dá liceeença. - Ela já começou a empurrar as pessoas. Detalhe: não tinha muito espaço vazio, ainda, dentro do 669A, mas ela insistiu e quis porque quis passar e chegar até a cobradora. Já começou causando por aí: entrou e começou a gritar.

- Ô...Ô...Ô... Ôôôôô cobadora??? Deixa eu passá po baixo da crataca?

E que saída tinha a pobre cobradora, a não ser deixar a figura estranha passar por baixo?! Assentiu com a cabeça.

-Oh, oh, minha gente, me dá ua licencinha pra mim podê passá po debaixo da crataca? Oh, moço, o senhô poderia me dá ua licencinha?

Quando eu escuto música indo pro Mackenzie, eu escuto num volume razoável: nem estoura meus tímpanos, mas também não me deixa escutar na íntegra o que acontece ao meu redor - só escuto quando algo soa mais do que a minha música, e era o que acontecia com a mulher.

Enfim, eu já estava ouvindo a Fulana resmungar e, quando olhei que a voz vinha da mulher estranha que estava na rua, eu não aguentei: comecei a rir! Mas pra não dar bandeira, ria baixinho, encolhida, só balançando os ombros. (Hahahahahaha! A lembrança já é engraçada!)

Voltando à conversa com a cobradora e o moço executivo - sim, quem estava na famosa "posição de encaixe" era o executivo, que, se não estivesse com a mochila na frente das pernas, eu jurava que estava tendo (com o perdão do gerúndio) um caso de amor com a catraca.

Bom, ônibus lotado, moço na catraca, cobradora permitiu a passagem da mulher e o excutivo só olhou pra ela e tentou sair de lá.

E eu pensando com meus botões: Como RAIOS a fulana quer passar por debaixo da catraca??? Ela vai ficar presa!

[Nota 2: eu amo gordinhos!! Fato! Mas, com todo respeito, as pessoas precisam de um pouco mais de consciência corporal. Todos os meus amigos gordinhos têm consciência corporal. Aquela mulher não tinha. NENHUMA.]

O pensamento de como a Fulana conseguiria passar só me fazia dar mais risada! E eu já estava quase derramando lágrimas de tanto rir, quando, de repente, ela simplesmente brotou do meu lado, recomeçando o discurso.

-Atenção!! Atenção para mim, um pouquio! Seôres, eu gostaria de lhe pedir pra vocês (e aqui é a parte que eu começo a me contorcer) que me ajudasse! Qualqué um que tivé um dinherío que possa me dar pra mim descê e comprá um pacote de arroooooz, né? Um pacote de feijãooo, né? Qualqué um que fô descê aqui na Bigadeiro, né? Que pudé me ajudá seria boooom, booooom, mesmo! Qualqué coisa, seôres! Ua moedía, um cigaaaarro! Estou passando, seôres, estou passando! Cô liceeeeença. Cô liceeeeença!

E, sim, ela passou o ônibus inteiro tentando recolher trocados pra comprar um pacote de arroz! Eu não consegui ouvir muito mais do discurso, porque ou eu estava rindo - leia-se gargalhando - ora eu estava tentando me concentrar na música do meu MP3 pra não rir mais e a mulher, de repente, encrencar comigo, né?

Não vi quando ela desceu, mas percebi que não era só a minha pessoa que ria da situação: pelo menos mais umas 10 pessoas comentavam a Fulana e guardavam suas bolsinhas de moedas de volta na bolsa.




Olha... Se contar, ninguém acredita!


Até mais!

Dado Curioso: Luís Antonio de Sousa Queirós (1746-1819) foi um militar que atingiu a patente de brigadeiro. Foi também negociante de fazendas do interior de São Paulo, proprietário do primeiro navio que saiu do Porto de Santos, com mercadorias das fazendas, com destino a Lisboa. Além disso, doou mais de um conto de réis à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e diversas outras quantias para a construção dos edifícios de instituições, como o Quartel da Legião de Voluntários Reais, o Hospital Militar e o Jardim Botânico.

Daí vem o nome da Avenida Brigadeiro Luís Antonio, em homenagem a ele.

Fonte (com o perdão pela simplicidade): Wikipédia

2 comentários:

  1. Esse tipo de coisa só acontece no 669A. É cada uma que a gente até desacredita. Mas o pior é que acontece mesmo. Eu sei, eu pego o 669A!

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  2. Oi Dhômi!!!!
    Mto divertido seu blog novo!!
    Adorei!!!
    Hahuauhahuahua... Pegar ônibus em São Paulo é uma aventura!
    Beijão!

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